Script da vida de Mauro Grün

on quarta-feira, 12 de novembro de 2014
Mauro Grün fez o ensino fundamental e médio em escola pública, Colégio Estadual Presidente Castelo Branco (Castelinho). Lembra de muitas amizades como Luis F. Johan (lingüiça), Paulo Aires e Gavuto (Gabriel Aires) e Tano (Luis Cristiano). Morou em Lajeado até 1984. Na adolescência viveu momentos de grande rebeldia contra o status quo da sociedade Lajeadense e montou uma banda de Rock com Ricardo Arenhaldt (bateria), Vico Marmitt (baixo), Assis Barros (poeta) e guitarra solo; no repertório muito Beatles, Stones e composições próprias. “Éramos ingênuos e rebeldes, pensávamos que poderíamos mudar o mundo através da música”. Participamos do l Musivale (junto com Luis Carlos Barros).

Hoje Mauro declara ter se reconciliado com Lajeado. “A cidade tem uma ótima qualidade de vida”.  Tem o teatro do SESC e o espaço cultural Dr. Dewes. Cita como opções os músicos e amigos Solon Chaves, Alex Lima, Max Lima e a bela voz de Cristiana Pretto, além, é claro, de seu mano Marquinhos Grün, baterista da Orquestra de Teutônia e professor de bateria no CEAT (como atividade curricular).

Assis Barros Filho e Mauro Grün

Com a morte prematura de Assis Barros, companheiro inseparável de poesias, músicas e amizade, Mauro decide se mudar para Porto Alegre para cursar filosofia na UFRGS. No seu primeiro dia em Porto Alegre ganha o livro “Morangos Mofados”  (Caio Fernando Abreu) e a “Metamorfose” (Kafka) de sua namorada Graça Silveira. Devorei. Voltei a Lajeado dizendo “Paris não é uma festa” (conto de Caio).
No curso de filosofia fez muitas amizades; Julio Bernardes, Reginaldo, Antonio Augusto Goulart, Artur (Kantiano de carteirinha), João Cleo (grande poeta) e Renato Sartori, com quem lê Miler. Ficamos impressionados com a força de sua interpretação do gênio de Dostoiévski. Já na aula inaugural no curso de filosofia, proferida pelo professor Cirne Lima, ficou tudo muito claro. “Bem vindos a Europa”, disse ele, “pois esse é o nosso nível de exigência”. Na filosofia se impressiona com a maestria e brilhantismo do professor Balthazar Barbosa Filho com quem estuda Descartes, História da Filosofia, Filosofia Moderna e Filosofia Analítica.

Professor Balthazar Barbosa Filho

Durante quatro anos morei numa República, uma velha casa na Luis Afonso, cidade baixa, com mais trinta e dois estudantes. Todos marxistas stalinistas, menos eu e o sociólogo Yuri Azeredo. Nós cultivávamos algumas formas de anarquismo (Kropotkin). Muitas vezes as assembleias em Casa iam até às cinco da manhã. Eu e o Yuri Azeredo não aceitávamos o estatuto da Casa do Estudante e apregoávamos a vida comunitária sem uma rígida divisão de tarefas. Ou seja, cada um poderia fazer o que quiser. Na José do Patrocínio morava outro anarquista, diretor de teatro e amigo, Paulo Flores, do grupo Oi Nóis aqui Traveis, no final eu e o Yuri acabamos derrubando o estatuto, a vida melhorou e todo mundo começou a se dar bem.

Quando me formei em filosofia me aproximei muito do amigo Luis Gomes, hoje editor da Sulina. Eu e o Luis Gomes passamos por muitas dificuldades financeiras. Nos encontrávamos quase todos dias para criticar à Escola de Oxford. Tenho saudades daquele tempo. Um dia o Luis me aparaceu com livro a Miséria do Cotidiano do Juremir Machado e perguntou “Mauro, ainda existem out-siders? Devorei o livro do Juremir, às páginas pareciam ter grudado em meu peito.

Desde que retornou dos Estados Unidos, Mauro voltou a morar com seus pais, Ilson (pigico) e Marlene. Seus melhores amigos são Sergio Korbes (zebrinha), Lele Bosse e o artista plástico Paulo R. Zart (Passarinho). Hoje Mauro Grün trabalha a ideia de um livro que trata da convivência simultânea de sentimentos como solidão, disciplina filosófica, loucura e razão. É de cunho biográfico, mas contará com citações diretas de Descartes e Samuel Beckett (essa parte do manuscrito será submetida a apreciação dos filósofos Hans-Georg Flickinger e Ernildo Stein. 

Trata de acontecimentos verídicos ocorridos em 1996. Morando sozinho na Oceania (seu flatmate havia viajado para India), Mauro procura o Psiquiatra Rod Brown e afirma estar sofrendo de um fenômeno chamado repressed memory. Os anos oitenta e setenta passam como um filme em sua mente. Envolto em pensamentos delirantes, o filósofo embarca para Los Angeles a procura de seu passado, é encontrado vagando sem destino no Aeroporto, há três meses sem fazer a barba. Um comandante da Varig o reconduz ao guichê de passagens e emite um ticket a Porto Alegre, onde é encontrado por Marquinhos Grün.

De volta a Lajeado encontra aquele que seria o maior amor de sua vida, Fabiana Donadel e se converte ao Cristianismo, de volta a Australia, Mauro é internado no Perth Royal Hospital, onde sofre um surto psicótico. Nessa época fica aos cuidados de médico budista do Sri Lanka e o filósofo Andrew Brennan e Norva tornam-se seus melhores amigos. O livro retrata a profunda dor de um ser humano que perde a coisa mais importante na vida de um filósofo; a razão.

Hoje Mauro se encontra aos cuidados do Dr. Leandro Luz e faz terapia com a Dr. Luisa Isabel D. Gimeno. Divide o seu tempo entre Lajeado, Porto Alegre e a praia dos Ingleses, onde mora sua filha Isabel, a maior alegria de sua vida.


É autor, entre muitos outros artigos, de “Gadamer and the Otherness of Nature: Elements for an Environmental Education”. Human Studies (2005) 28:157-171

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