Ética, Universidade e Meio ambiente

on quinta-feira, 4 de dezembro de 2014
“O objetivo da educação é promover a continuidade da vida humana” (Veit, 1993). 
Se o objetivo da educação é promover a continuidade da vida humana, o que poderíamos dizer sobre os meios e valores para alcançar este objetivo hoje, onde não só a vida humana, como vários outros tipos de vida estão ameaçados, todos eles com milhões de anos de história evolutiva ?

Essa pergunta se impõe no séc XXI e se apresenta como um dos principais desafios educacionais. Para o filósofo Holmes Rolston III (1992) “as pessoas, durante cujas vidas a sorte da Terra será amplamente decidida, pertencem à geração de estudantes em nossas Universidades hoje”. Assim, somos parte do problema e parte da solução.
Mauro Grün

Mauro Grün

Ao longo dos últimos vinte dois anos (1992-2014), tenho trabalhado com isso em mente. Meu trabalho inscreve-se na perspectiva de tentar romper com o processo de objetificação da natureza (tornar a natureza mero objeto da razão) iniciado e sustentado pela visão cartesiana.

Quase quatrocentos anos após o seu surgimento essa concepção da vida se apresenta como a concepção dominante em quase todas as Universidades do mundo. O gênio de Descartes se encontra entre nós com todo seu vigor.


Rene Descartes - (1596 - 1650)

O projeto cartesiano de ciência visa reduzir a diversidade das coisas à medida comum, a fim de possibilitar a relação entre elas, tornando-as comparáveis (Moura, 1987). A mathesis universalis é o método científico de alcance universal, seu procedimento é o de decomposição (análise) e síntese. Primeiramente deve-se dividir as partes do todo para em seguida realizar a operação inversa, como na equação do tipo


em que A, B e C são grandezas conhecidas e X uma incógnita a ser descoberta. Por esse procedimento chega-se a um novo conhecimento. Descartes procura um fundamento que seja único para todas as ciências. Em todos os ramos da ciência deve existir um modo específico de investigar os objetos.

Para tanto, ele vai realizar pesquisas no campo de estudos ao qual hoje chamamos "geometria analítica". Isso torna possível a Descartes a conversão de grandezas e propriedades geométricas em formas algébricas. Segundo este método, o quadrado de uma grandeza passa a ser a² e o cubo de uma grandeza a³. Este tipo de conversão abre a Descartes a possibilidade de relacionar as duas grandezas num mesmo sistema de cálculo e matematizar essas relações reduzindo-as a uma medida comum' (Moura, 1987). Este é o sonho de Descartes

Observemos que com isso tanto a grandeza que foi representada pelo quadrado como a que foi representada pelo cubo foram reduzidas a uma medida comum e calculável matematicamente. De certa forma, elas deixaram de ser o que eram e não evocam mais a figura do quadrado nem a do cubo. Elas tornaram-se apenas quantidades de grandezas diferentes. 

Descartes afirma que no dia 10 de Novembro de 1619, iluminado por Deus, sonhou com a possibilidade de reformar sozinho todo corpo das ciências. “Aquele dia ele descobriu as fundações de um maravilhoso sistema de pensamento”, diz o biógrafo Adrien Baillet em “La Vie de Monsieur Descartes”. Um trecho dessa obra traduzido para o inglês pode ser encontrado no Appendix do livro de John Cottingham “Descartes” (p.161).

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