“Atualmente diz Reed, perdemos um precioso senso da nossa insignificância,
e a natureza pode ajudar a nos lembrar desse elemento” ( Grün, 2007).
(...) Perdemos um precioso senso de nossa insignificância diante da
vastidão infinita do cosmos (...)
Não se trata da insignificância das pessoas. As pessoas são
importantes. É sim, a nossa insignificância diante da natureza, da terra em sua
jornada de formação desde os tempos imemoriáveis antes da presença da vida no
planeta. ( Grün, 2009).
Ética Ambiental
O escopo da
ética, dizem Light e Rolston (2003), é bem mais amplo que o da lei e diz
respeito àquilo que é errado ou imoral, seja legal ou não. A ética ambiental
disserta ou prescreve em que situações é imoral ou errado explorar, usar,
dominar ou destruir a Natureza. Também se ocupa de quais as maneiras eticamente
corretas de conservar, restaurar e estabelecer relações com a Natureza e com o
mundo não-humano em geral.
Ética da Terra
por Mauro Grün
Holmes Rolston
III é um dos mais influentes filósofos ambientais do valor intrínseco da
Natureza. Ele se queixa que a Natureza tem sido tratada quase exclusivamente
como um recurso natural e afirma que uma Educação Ambiental deveria nos ajudar
a valorizar uma Natureza não consumida. A mudança radical ocorreria quando as
pessoas, governos e empresas parassem de valorizar tanto os recursos e
passassem a admirar mais "a Natureza em seus próprios termos" e não a
perturbassem nem a desvalorizassem tanto.
Isso não quer
dizer que uma pequena parte da Natureza não possa ser transformada em recurso,
mas teríamos de aprender a não valorizar somente os recursos e sim toda uma
parte da Natureza que aparentemente não tem valor. Nós valorizamos apenas
aquilo que processamos - madeira, água represada, minérios, etc, deixando de
lado o valor intrínseco da Natureza. A nossa civilização Ocidental parece ser
capaz de conferir apenas valor instrumental à Natureza, valor de uso e de
negociação. Simplesmente, não concebemos que uma enorme área da Natureza pode
não servir ao mero interesse utilitário da maioria dos seres humanos. Para
Rolston (1993), a afirmação "tudo é recurso" encontra paralelo na
sentença "todo mundo é egoísta". As ações das pessoas estão baseadas
no interesse c no benefício próprio.
“Nosso lugar no
mundo natural necessita de relações com recursos, mas então chegamos num ponto
em que queremos saber como nós pertencemos a este mundo, e não como o mundo
pertence a nós. Nós queremos ter nossos self
definidos em relação à Natureza, e não simplesmente definir a Natureza em
relação a nós" (ROLSTON, 1993, p.57).
Se quisermos vencer
"o paradigma da natureza-como-mero-recurso-natural nós precisaremos de uma
teoria do valor mais abrangente, uma teoria não-antropocêntrica" (idem,
p.64). Para Rolston (1993), as pessoas contam, mas não tanto que nada mais
conte. Rolston (1996) dá o exemplo de uma árvore. Árvores não têm vida subjetiva ou razão e são sistemas
automantidos que se sustentam, se reproduzem e tentam executar os seus
programas. A árvore tem um telos e
busca cumpri-lo na realização de suas funções projetivas. Quando ferimos uma
árvore, ela tenta, de todas as maneiras que lhe são possíveis, se regenerar.
Ela está sempre procurando um estado de valor. Todo organismo possui o bem-de-sua-classe
e a ela defende como uma classe boa. De modo semelhante, Rolston estende essa
argumentação do Valor em si dos organismos, animais superiores e inferiores,
para espécies e ecossistemas e, finalmente, para a Terra como um todo (GRÜN,
1994).
Recentemente,
Rolston (2003) surpreendeu a comunidade internacional de ambientalistas, educadores
e filósofos ambientais ao afirmar que, quando ocorresse um antagonismo radical
entre Salvar a Natureza ou Alimentar as pessoas, deveríamos deixar que as
pessoas morressem, pois a diversidade de lugares como a floresta Amazônica e
Madagascar não poderia ser sacrificada. O texto provocou grande polêmica. Em
Grün (1298), respondi a Rolston, dizendo que é preciso, antes de mais nada,
reverter o processo de desorganização socioambiental da Amazônia. E a
"reversão do processo de desorganização socioambiental da Amazônia só pode
ser alcançada por meio de promoção de dinâmicas sócio-políticas [sic] que se
anteponham às práticas técnicas e econômicas responsáveis pela predação"
(ACSEBRAD apud GRIS, 1998). A dicotomia de Rolston (2003), Pessoas Famintas
versus Natureza, não dá conta disso.
A Ética da Terra
Callicott (1989, 1993) é outro
dos mais influentes filósofos ambientais. Ele desenvolve sua Ética da Terra
principalmente a partir do conservacionista e guarda florestal Aldo Leopold e
seu livro A Sand County Almanac and Sketches
Here and There, mas também utilizando os trabalhos de Charles Darwin, David
Hume e Adam Smith. A Ética da Terra de Leopold tem encontrado muitos seguidores,
mas também muitos críticos, como John Passmore, Jim McCloskey e Robin Attfield.
Callicott (1993) se defende dizendo que a ética da terra de Leopold, na qual se
baseia para formular a sua própria ética, tem sido mal interpretada como uma
ética nobre, porém muito ingênua. Além disso, o próprio Callicott (1993)
reconhece que ela não é familiar e soa radical demais. No entanto, complementa
o autor, trata-se de uma teoria moral revolucionária. Uma das críticas à ética
da terra de Leopold é que o mundo está ruim demais para aceitar a nossa
participação ética na natureza. Callicott (1993) se defende dizendo que a
moralidade não é descritiva, e sim prescritiva ou normativa. Além do mais,
nunca a nossa história (ocidental) apresentou tantos e diversos movimentos que
têm argumentado em uma base moral: direitos humanos, feminismo, animal
liberation, que são uma espécie de extensão da ética. Essa extensão é vista por
Leopold. (1987) como uma evolução ecológica. Callicott (1993) argumenta que
Darwin já via o fenômeno ético como evolucionário e Hume e Adam Smith, por sua
vez, acreditavam que a ética estava ligada aos sentimentos. As sementes da
ética da terra de Leopold estão em Darwin e parecem começar por um sentimento que talvez seja
comum a todos os mamíferos - sentimento de união e até afetividade entre pais e
sua prole.
Essas relações
de "sentimentos sociais", diz Darwin, acabam se tornando mais difusas
e se disseminam por populações formando comunidades e tornando esta comunidade
e seus membros mais resistentes. A leitura que Aldo Leopold faz de Darwin
permite que ele estabeleça o protoprincípio de sua ética da terra: o de que a
ética tem sua origem remota na tendência de indivíduos interdependentes ou
grupos evoluírem por meio da cooperação. Para Leopold (1987), toda e qualquer
ética se baseia no princípio de que o
indivíduo é um membro de uma comunidade de partes interdependentes. Essa é
a gênese da ética da terra de Aldo Leopold (CALLICOTT, 1993). Leopold (1987)
considera "ética, sociedade e comunidade" como quase sinônimos. Mais tarde, ele vai
desenvolver isso em termos de modo de pertença de um indivíduo à terra.
Evidentemente, trata-se de uma postura ecocêntrica que se pretende radical.
Esse sentimento de pertença pode também ser encontrado em muitas pessoas que,
por exemplo, advogam que todos os membros da espécie humana (como membros da
humanidade, uma comunidade) têm direitos fundamentais independente de raça,
credo, etnia, sexo ou origem nacional. Mas de acordo com Leopold (1987) a ética
humana universal incompleta, falta a noção de comunidade e, por extensão, a de
terra.
Falta à ética
universal humana um modo de pertença dos humanos a algo maior que eles/elas e
que deveriam aprender a respeitar. "A ética da terra simplesmente alarga
os laços da comunidade para incluir solos, águas, plantas e animais, ou
coletivamente: a terra" (LEOPOLD apud CALLICOTT, 1993, p.389). Ou seja,
para Leopold, a terra é uma comunidade. ( ) conceito de comunidade biótica foi
desenvolvido por Charles Elton nos anos de 1920. "A chave para a
emergência de uma ética da terra é, simplesmente, educação ambiental
universal" (CALLICOTT, 1993, p.389). O conceito de comunidade visa
integrar socialmente as entidades não-humanas com as humanas.
Callicott
(1993) acredita que a teoria Copernicana também pode ilustrar nossa situação de
comunidade no espaço sideral. A Terra é vista hoje apenas como um pequeno
planeta rodeado por um universo imenso e hostil e isso pode reforçar nossa
noção de comunidade. Goodpaster, citado em Callicott (1993), diz que Leopold
conseguiu estabelecer a considerabilidade moral não apenas para os membros da
comunidade biótica, mas da comunidade biótica propriamente. Afinal, Leopold diz
claramente que homo sapiens deve abandonar seu papel de conquistador da terra e tornar-se um membro e cidadão da comunidade-terra e, mediante essa
pertença, Leopold (1987) estabelece a máxima moral da ética da terra: "uma
coisa é correta quando tende a preservar a integridade, estabilidade e beleza
de uma comunidade biótica. Está errada quando tenta o contrário" (citado
em CALLICOTT, 1993). Há também um componente estético no modo de pertença do
humano à comunidade biótica. A sensibilidade moral, embora seja resultado da
evolução, não é determinada por ela. A sensibilidade ou os sentimentos morais
são fruto da ecologia, seguindo o modelo de comunidade de Charles Elton. A ideia
de ecossistema de Tansley também se revelou um conceito muito fértil para a
ética da terra. Poderíamos ser levados aqui a pensar na teoria Gaia; no entanto,
Leopold abandona a ideia de modelo-organismo ou superorganismo, ficando com o
conceito de comunidade. Para Tansley, "a energia solar se transmite
através de um circuito chamado biota". Defender essa integridade da
complexa estrutura da terra é tarefa moral de todos os membros da comunidade. A
ética da terra não partilha dos pressupostos do racionalismo Ocidental, mas dos
sentimentos morais de Hume e Darwin: amor, respeito, obrigação e admiração.
As éticas ambientais
de Routley (2003), Naess (1995), Rolston (1993,1996) e Callicott (1989, 1993),
que apregoam o valor intrínseco da Natureza, têm muitas diferenças entre si nas
suas formulações e aplicações. Mas têm também muitos pontos convergentes, como,
por exemplo, a crítica ao valor instrumental da Natureza. Essa crítica, quando
vista pelo diversificado prisma da Educação Ambiental, adquire múltiplas
facetas. A principal, a meu ver, é a crítica à racionalidade econômica
dominante. O racionalismo econômico ou neoliberalismo se torna impraticável em
uma política ambiental que enfatize o valor intrínseco da Natureza. Afinal, não
podemos considerar a Natureza como mero recurso natural.
Quando
fizermos isso, estaremos apenas defendendo as condições de produção do novo
capitalismo e a felicidade humana de muito poucos. Esse é um dos equívocos
centrais de algumas posturas de Desenvolvimento Sustentado, conceito este que,
por sua vez, também é redefinido quando pensamos em valor intrínseco. Por meio
de valores intrínsecos da Natureza, que não podem ser simplesmente comprados ou
meramente instrumentalizados, a Educação Ambiental é redimensionada em sua
capacidade de trabalhar com valores. Outro insight das éticas ambientais é de
que os valores intrínsecos da Natureza podem ser úteis à Educação Ambiental
também na crítica do ecofeminismo às relações patriarcais estabelecidas pelo
domínio dos homens, brancos e capitalistas sobre a Natureza.
Salleh (1993),
por exemplo, acredita que as "relações" que o patriarcado estabelece
com a Natureza são de controle, ao passo que as mulheres historicamente teriam
uma postura de reciprocidade. Plumwood (1993) faz unia contextualização
cultural de Salleh (1993). Ela argumenta que a tradição racionalista e
masculinista Ocidental dominante não valorizou moralmente conceitos como respeito,
afinidade, cuidado, preocupação, compaixão, gratidão e amizade, conceitos estes
que pertenciam à esfera privada da mulher, e não ao reino universal da razão
legisladora.
Pluralismo
Nos anos de
1990, assistimos ao nascimento de mais um prestigiado periódico de ética
ambiental, o Environmental Valise, na Inglaterra. Nessa época, as éticas
ambientais chegaram a um tal grau de diversificação que muitos teóricos
começaram a se perguntar se apenas uma ética e um determinado conjunto de
princípios seriam suficientes para desencadear uma Educação Ambiental e dar
conta da complexidade das questões ambientais. Surgiram, então, os pluralistas
morais - Christopher D. Stone, Andrew Brennan, Peter Wenz. Mas logo após, em
1994, Callicott se definiu como Monista e disse que uma ética ambiental Monista
poderia também ser sensível à complexidade dos problemas ambientais sem cair na
promiscuidade moral dos pluralistas. Callicott (2003) argumenta que nada impede
que ambientalistas, educadores e teóricos mal intencionados simplesmente
troquem de teoria para teoria com intuito de receber benefícios pessoais.
Em Earth and Other Ethics: the case for moral pluralismo
(A Terra e Outras Éticas: o caso para o pluralismo moral) e The Case of Moral
Pluralism in the Course of Environmental Ethic (O Caso do Pluralismo Moral no
Curso da Ética Ambiental), Stone (1987, 2003) defende o pluralismo moral e
pergunta se realmente deveríamos adotar princípios morais invariantes para
fazer o campo da ética ambiental progredir. Na verdade, o debate entre Monismo
e Pluralismo Moral parece ter se revelado um locus privilegiado para a discussão sobre qual o papel da metaética
no campo mais amplo da moral. Para Stone (2003), está claro que a metaética
ortodoxa tem um "senso de missão". "É amplamente presumido, por
implicação quando não é tornado explícito, que a tarefa da ética é promover e
defender um único princípio (ou um corpo coerente de princípios) (...)"
(STONE, 2003, p. 195). Um ponto de vista correto que nos guiasse em direção a
uma solução correta.
Mas o autor
adverte que os ambientalistas e educadores (as) têm boas razões para suspeitar
do Monismo, pois enfrentam sempre uma variedade de situações muito complexas
para que sejam analisadas a partir de uma matriz ética única. Uma matriz ética
Monista pode funcionar bem quando aplicada às relações entre pessoas, ou seja,
uma ética intra-humana, como dizia Routley (2003). Seria uma ética do tipo
"deves respeitar as outras pessoas", uma ética facilmente
generalizável. Mas ela colapsa quando entidades mais exóticas são analisadas
moralmente, como, por exemplo, a consideração moral pelas futuras gerações,
embriões, animais, árvores, robôs, montanhas e obras de arte.
Stone (2003)
argumenta que, em geral, o 'que acontece nesses casos é uma extensão da ética
intra-humana para entidades não-humanas. No entanto, esses argumentos parecem
"forçar" a considerabilidade moral simplesmente colocando entidades
não-humanas no lugar de pessoas. A pergunta que se coloca é: Pode uma
moralidade operar por intermédio de uma diversidade de entidades não-humanas?
Precisamos nós
de um único conjunto de princípios abstratos generalizáveis a todo mundo
não-humano? O próprio Stone (2003) responde dizendo que as "ambições do
Monismo de unificar toda ética dentro de uma estrutura capaz de afirmar uma
resposta correta para todos os nossos dilemas são simplesmente
quixotescas" (p.196). A moralidade envolve distintas atividades e uma
variedade de coisas e o Pluralismo Moral dá conta disso, nos convidando a
escolher diferentes estruturas conceituais. Steen, citado em Stone (2003),
comenta que mesmo a matemática sofreu um processo de pluralização desde Gödel e
onde urna vez havia a geometria, hoje encontramos geometrias, onde havia
álgebra, temos álgebras.
A ética tem
como seu objetivo escolher a ação certa. Enquanto o Monismo Moral escolhe uma
ação correta sempre sob a égide dos mesmos princípios, o Pluralismo Moral
analisa qual pode ser a ação ética coerente por muitos ângulos possíveis. Stone
(2003) não poupa os monistas e sugere que os que preferem uma única avaliação
moral são "moralistas". Comparar alternativas é algo lógico. Tomemos
como exemplo um caso clássico da literatura em ética ambiental: o de um búfalo
se afogando em um rio de um Parque Nacional. Deveríamos salvá-lo ou deixar que
a Natureza tome seu curso? Um dos pontos de vista favorece o animal. Mas há
ainda a considerabilidade moral que favorece o ecossistema do parque e outra
ainda que favorece a espécie. Isso provoca uma constelação de conceitos. A
análise moral do animal leva em conta: dor, inteligência, compreensão da
situação, ao passo que o foco no ecossistema considera moralmente a
estabilidade, resistência, singularidade e fluxo de energia. São n variáveis a serem levadas em conta na
análise moral. Não existe uma única solução. Nós estamos sempre atravessando
fronteiras morais de um domínio para o outro; dos animais para organismos
vivos, destes para ecossistemas e espécies e ainda destes para a Terra ou a
biodiversidade, grupos culturais, gerações futuras, povos indígenas,
aquecimento global, etc. Em Educação Ambiental, o Pluralismo Moral pode ser
útil no sentido de saber o que estamos valorizando e avaliando, protegendo ou
criticando em cada caso.
Já o Monista
J.Baird Callicott (2003) se defende das acusações de Stone (2003) dizendo que o
Pluralismo leva qualquer teoria ética a um ponto de ruptura e assim somos
deixados com apenas duas alternativas: o cinismo moral ou o pluralismo moral.
Callicott (2003) não adere a nenhum desses dois caminhos e diz que atualmente
existe um número impressionante de teorias éticas bem fundamentadas capazes de
ser suficientemente inclusivas para abrigar várias preocupações de cunho ético.
Callicott (2003) cita sua própria teoria, o altruísmo presente em Hume e
Darwin, para advogar que uma teoria inclusiva é possível. Também faz menção à Ética
da Terra de Rolston (1996) e à Ecosofia T. de Arne Naess (1995) como exemplos
de teorias que dão conta da diversidade, dos contextos e da variedade de
problemas socioambientais.
Callicott (2003) critica o Pluralismo
Moral ilustrando como ele seria em nossas vidas diárias. O pluralismo moral nos
convidaria a ter uma atitude moral com os amigos, outra com os vizinhos, outra
como cidadãos, outra para ajudar nosso filho no dever de casa, ainda outra para
com as futuras gerações, outra para as nossas relações com o mundo animal
não-humano, outra para as plantas, outra para Gaia e assim ad infinitum. Isso levaria à promiscuidade moral. Ao invés disso,
argumenta Callicott (2003), teríamos de insistir nas possibilidades oferecidas
por uma abrangente metaética. Essa ética teria que dar conta não só das
relações humanas, mas também das relações humanas com as entidades naturais
não-humanas e com a Terra como um todo. Uma ética desse tipo fornece
possibilidades para a Educação Ambiental compreender os problemas
socioambientais de um modo holístico e integrado, não fragmentado como o
Pluralismo Moral.
Ética de Parceria com a Natureza
Quando alguém
se engaja em um diálogo com a natureza, esse engajamento é determinado não pela
vontade individual, mas pela lei da temática em questão. O mesmo ocorre quando
o diálogo entre duas pessoas é genuíno. O conhecimento não é determinado pela
vontade individual de cada parceiro ou parceira, mas sim pela lei da matéria em
questão. Em um mundo incrivelmente técnico é difícil falar em "respeito"
pelas coisas. Mas as coisas não são simples material para ser usado e como diz
Gadamer, parafraseando Heidegger. No entanto, temos que cuidar o nosso respeito
pelas coisas não se constitua em um apelo à metafísica mesmo. Ou seja, contra à
unidimensionalidade do Cartesianismo e do Neo poderia surgir um apelo à
unidimensionalidade do ser-em-si-mesmo. A solução para esse paradoxo é o
caminho para a linguagem.
Sobre a importância da linguagem ver essa postagem aqui.
Gadamer (1976) considera equivocada a pergunta pela
natureza das coisas e diz que seria melhor parar de fazer essa pergunta substituí-la
por uma pergunta pela "linguagem das coisas" que nós queremos ouvir, no modo como as coisas trazem a si mesmas para
a linguagem.
A linguagem é
fundamental para compreender a nossa relação com a natureza. Através da
linguagem podemos compreender que não estamos fora na natureza, como apregoava
Descartes. Tampouco estamos totalmente imersos
na natureza como implicam algumas leituras da Ecologia Profunda. Uma compreensão
hermenêutica nos leva a perceber o que
poderia ser uma relação ecológica entre seres humanos e natureza. Seria uma
relação na qual nós participamos na natureza e a natureza participa em nós. Esse
tipo de compreensão nos permite estabelecer "Tecnologias de Aliança" com a
natureza para nos aproximarmos dela e ao mesmo tempo, manter sua outridade
sempre respeitada. E nesse tipo de encontro saímos ambos modificados, nós e a
natureza.
Ao longo dos últimos 300 anos, a
Natureza foi transformada em mero objeto de manipulação à disposição da razão
humana. A visão das paisagens e dos lugares de modo mecânico e sem vida levaram
a uma completa separação entre seres humanos e meio ambiente. Atento a esses
problemas, Mauro Grün desenvolve nesta obra uma ética de parceria com a
Natureza em educação ambiental, uma simbiose na qual os elementos se combinam
num regime de co-participação e integração.
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