Metodologia moderna: da Manipulação à uma Postura Ética

on quarta-feira, 2 de julho de 2014
          
Imagem da Internet

A partir de Descartes e Galileu instala-se o procedimento padrão do fazer científico dos séculos subsequentes, no qual o cientista concebe a realidade única e exclusivamente através de seu pensamento, obedecendo a um único princípio: o da autoridade matemática. Isso confere um poder de manipulação simplesmente ilimitado ao pensamento científico. Obviamente, tal modificação imprime uma perspectiva completamente nova, não só ao pensamento filosófico, mas a todas as ciências naturais que, a partir do século XVII, começam a se separar da filosofia. 

        À luz do legado cartesiano, as ciências humanas que vão se desenvolver ao longo do século XIX serão consideradas invariavelmente como as primas pobres das ciências naturais, uma vez que estas últimas encontram a possibilidade de sua fundamentação nas evidências matemáticas presentes de maneira inata no sujeito. Essa é a base sobre a qual se desenvolverá o pensamento tecnológico e manipulativo que hoje ameaça a própria vida sobre o planeta. A tarefa de conhecer e o ato de dominar os objetos do conhecimento passam a ser inseparáveis. 

       A fundação epistemológica que toma o sujeito por sua base implica, necessariamente, domínio e posse dos objetos. Praticamente toda a pesquisa desenvolvida em nossas universidades, nos últimos duzentos anos, funciona exatamente com base nesse modelo fundacional. Isso se aplica tanto às ciências naturais  - química, física etc. - como às ciências humanas derivadas da filosofia da consciência.
(Grün, 1996)

     O ato de objetificação do mundo pela consciência passa a ser um ato de poder.(...) O pensamento tecnológico não é mais que um prolongamento, até suas últimas consequências, da subjektitat Isso pode ser visto no insaciável e frenético desejo de domínio tecnológico presente nas sociedades modernas.


       “O modo de pensar tecnológico moderno e a vontade de poder que está na sua base leva-nos a refletir em termos de domínio do tema e de ataque ao assunto”(Palmer.248). Somos agressivos quando nos encontramos frente aos nossos objetos de pesquisa e desenvolvemos um certo tipo sufocante de posse e de controle em relação a eles. É comum, por exemplo, na comunidade científica contemporânea, a invocação das metáforas arsenal, instrumental, ferramenta, arcabouço, para referir-se ao referencial teórico de um estudo. Para Gadamer isso seria a expressão da “atual situação crítica em que se encontra o mundo que, sobre a base da ciência, transformou-se numa gigantesca oficina”(1983, p.13).

0 comentários: