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A partir de Descartes e Galileu instala-se o procedimento
padrão do fazer científico dos séculos subsequentes, no qual o cientista
concebe a realidade única e exclusivamente através de seu pensamento,
obedecendo a um único princípio: o da autoridade matemática. Isso confere um
poder de manipulação simplesmente ilimitado ao pensamento científico.
Obviamente, tal modificação imprime uma perspectiva completamente nova, não só
ao pensamento filosófico, mas a todas as ciências naturais que, a partir do
século XVII, começam a se separar da filosofia.
À luz do legado cartesiano, as
ciências humanas que vão se desenvolver ao longo do século XIX serão
consideradas invariavelmente como as primas pobres das ciências naturais, uma
vez que estas últimas encontram a possibilidade de sua fundamentação nas
evidências matemáticas presentes de maneira inata no sujeito. Essa é a base
sobre a qual se desenvolverá o pensamento tecnológico e manipulativo que hoje
ameaça a própria vida sobre o planeta. A tarefa de conhecer e o ato de dominar
os objetos do conhecimento passam a ser inseparáveis.
A fundação epistemológica
que toma o sujeito por sua base implica, necessariamente, domínio e posse dos
objetos. Praticamente toda a pesquisa desenvolvida em nossas universidades, nos
últimos duzentos anos, funciona exatamente com base nesse modelo fundacional.
Isso se aplica tanto às ciências naturais
- química, física etc. - como às ciências humanas derivadas da filosofia
da consciência.
(Grün, 1996)
O ato de objetificação do mundo pela consciência passa a ser
um ato de poder.(...) O pensamento tecnológico não é mais que um prolongamento,
até suas últimas consequências, da subjektitat
Isso pode ser visto no insaciável e frenético desejo de domínio tecnológico
presente nas sociedades modernas.
“O modo de pensar tecnológico moderno e a vontade de poder
que está na sua base leva-nos a refletir em termos de domínio do tema e de ataque ao assunto”(Palmer.248). Somos
agressivos quando nos encontramos frente aos nossos objetos de pesquisa e
desenvolvemos um certo tipo sufocante de posse e de controle em relação a eles. É comum, por exemplo, na comunidade científica contemporânea, a invocação das
metáforas arsenal, instrumental,
ferramenta, arcabouço, para referir-se ao referencial teórico de um estudo.
Para Gadamer isso seria a expressão da “atual situação crítica em que se
encontra o mundo que, sobre a base da ciência, transformou-se numa gigantesca
oficina”(1983, p.13).
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